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6 abr
2020

Estudo PARTNER 3: 2 anos de seguimento

PARTNER 3 – análise de 2 anos de seguimento

Eduardo Keller Saadi, MD, PhD

-Professor Titular de Cirurgia Cardiovascular da Faculdade de Medicina da UFRGS/Hospital de Clínicas de Porto Alegre

-Chefe do Serviço de Cirurgia Cardiovascular do HSL/PUCRS

-Membro Titular da SBCCV

-Pós-Doutor em Cirurgia Cardiovascular em Londres-Royal Brompton Hospital

[email protected]

www.clinicasaadi.com.br

O estudo PARTNER 3 é um ensaio clínico randomizado, multicêntrico que incluiu 1000 pacientes de baixo risco (STS < 4%) com estenose aórtica grave randomizados para a) cirurgia convencional (prótese biológica) e b) implante de valva aórtica por cateter (TAVI) por via transfemoral com prótese balão expansível (Edwards Sapien 3R) em 71 centros.

O estudo foi patrocinado pela indústria (Edwards), a  maioria dos pacientes eram do sexo masculino (70 %) e a média de idade 73,4 anos. 

Os resultados de 1 ano foram publicados no NEJM em março de 2019 e a conclusão foi que em pacientes com estenose aórtica grave e baixo risco cirúrgico a taxa de eventos compostos (desfecho primário) de morte, AVC ou nova hospitalização em 1 ano foi significativamente menor com TAVI quando comparada à cirurgia convencional. Portanto, foi um estudo de não inferioridade, sendo esta atingida. Sendo assim, a superioridade do TAVI em relação à cirurgia convencional se deveu basicamente à maior taxa de nova hospitalização no grupo cirúrgico.

Figura 1 – PARTNER 3 – Resultados de 1 ano          NEJM    DOI: 10.1056/NEJMoa1814052

Figura 2 – Resultados de 1 ano: análise de subgrupos        NEJM    DOI: 10.1056/NEJMoa1814052

No dia 29 de março de 2020 foi apresentado “online” no ACC pelo Dr. Michael Mack o resultado de 2 anos do estudo PARTNER 3. Os resultados ainda mostram vantagem do TAVI em relação à cirurgia para o desfecho primário de morte, AVC e nova hospitalização, mas houve uma redução deste benefício entre o primeiro e o segundo ano de seguimento.

O aumento do número de AVCs e mortes no grupo TAVI parece ser o responsável pela diminuição do benefício. Em 1 ano a superioridade do TAVI era de 7,1%, se traduzindo em um efeito do tratamento de 48%.

Aos 2 anos a diferença caiu para 5,9% se traduzindo em um efeito de 37%, ainda atingindo o critério de não inferioridade (p=0,007). Porém, os investigadores não testaram para superioridade aos 2 anos de seguimento.

Figura 3 – Partner 3 – 2 anos de seguimento.  Apresentado “online” ACC março 2020

Entre 1 e 2 anos, quatro pacientes do TAVI morreram de causas cardiovasculares e três de causas não cardíacas. Sendo assim, no braço cirúrgico, três pacientes faleceram de causas cardíacas e nenhum de outras causas.

A principal causa de nova hospitalização em ambos os grupos foi insuficiência cardíaca.

Com relação a AVC, ocorreram seis no grupo TAVI (três incapacitantes) entre o primeiro e segundo ano, e apenas um (não incapacitante) no grupo cirúrgico.

As comparações dos principais desfechos no segundo ano estão apresentadas na figura 3.

Com relação à trombose de prótese, utilizando-se o critério do VARC 2, ocorreu mais no grupo TAVI aos 2 anos (2,6 % X 0,7 %; p=0,02).  

Com relação aos achados ecocardiográficos de gradiente médio, área valvar e regurgitação perivalvar. Portanto, não houve modificação entre o primeiro e segundo ano.

No que diz respeito à fibrilação atrial, continuou bem inferior no TAVI 

(7,9 % X 41,8 %; p<0,001) mas a incidência de bloqueio de ramo esquerdo persistiu maior no grupo TAVI (24,4 % X 9,4 %; p<0,001).

O desenvolvimento do TAVI foi um dos maiores avanços na área cardiovascular nas últimas décadas.

Sendo assim, avaliando-se os dados de 2 anos de seguimento do PARTNER 3, embora o tempo de acompanhamento ainda seja muito curto, podemos observar uma redução da vantagem do TAVI em relação à cirurgia com aproximação das curvas. Portanto, existem duas ótimas opções de tratamento para pacientes com estenose aórtica e baixo risco cirúrgico, salientando que vários critérios de exclusão foram empregados como, por exemplo, valva aórtica bicúspide. 

Sendo assim, o tratamento deve ser individualizado e resultados a mais longo prazo (10 anos) nos dirão quais as vantagens e desvantagens de cada um destes dois procedimentos, que estão bem estabelecidos e apresentam excelentes resultados no tratamento de uma doença que conseguimos alterar de uma maneira muito significativa sua história natural.

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